E, de qualquer forma, às cegas, às tontas, tenho feito o que acredito, do jeito talvez torto que sei fazer.

Era estranho aquele homem,
Ou assim o entenderam,
porque beijava tudo
o que passasse a sua frente

Beijava pessoas
o cachorro, os móveis.
e moredia docemente
a janela de um quarto

Quando saia na rua
ia beijando o bairro
as esquinas, calçadas,
portas e mercados
e nas noites de cine,
beijava sua poltrona
e as de trás.

Por estas e outras muitas,
o levaram
para onde ninguém o visse
onde não o lembrassem

E contam que em sua cela
beijava seus sapatos,
sua cama, suas grades,
suas paredes de barro.

Um dia, sem aviso,
morreu aquele homem estranho
e muito naturalmente,
na terra o semearam.
E nesse mesmo instante,
desde o céu, os pássaros
descobriram que ao mundo
lhe haviam nascido lábios.
Era estranho aquele homem...


(Silvio Rodrigues)

Luz dos Olhos (Nando Reis)

Ponho os meus olhos em você
Se você está
Dona dos meus olhos é você
Avião no ar
Um dia pra esses olhos sem te ver
É como chão no mar
Liga o rádio à pilha, a TV
Só pra você escutar
A nova música que eu fiz agoraLá fora a rua vazia chora...
Pois meus olhos vidram ao te ver
São dois fãs, um par
Pus nos olhos vidros prá poder
Melhor te enxergar
Luz dos olhos para anoitecer
É só você se afastar
Pinta os lábios para escrever
A sua boca em minha...
Que a nossa música eu fiz agora
Lá fora a lua irradia a glória
E eu te chamo, eu te peço: Vem!
Diga que você me quer
Porque eu te quero também!
Faço as pazes lembrando
Passo as tardes tentandoLhe telefonar
Cartazes te procurando
Aeronaves seguem pousando
Sem você desembarcar
Pra eu te dar a mão nessa hora
Levar as malas pro fusca lá fora...
E eu vou guiandoEu te espero, vem...
Siga onde vão meus pés
Que eu te sigo também.
Porque eu te amo!
E eu berro: Vem!
Grita que você me quer
Porque eu te quero também!Hei! Hei!...